6 de junho de 2007

Uma camarilha em debandada?

(…) ficamos com a ideia que o PS é uma camarilha que se autogoverna.

Clara Ferreira Alves, em O Eixo do Mal, SIC Notícias, 20/01/07

1. Devo esclarecer que a vida interna do Partido Socialista (PS) não me interessa rigorosamente nada. Mas, já me interessa quando essa vida interna se intromete ou interfere com a política autárquica municipal ou da freguesia. E isto, meus caros, está a acontecer.

De há muitos anos a esta parte que a luta interna no PS interfere com a vida autárquica no município de Odivelas. A própria criação do concelho teve a paternidade do PS. Lembram-se ainda, quando, em 2001, o candidato do CDS-PP à Câmara Municipal, Telmo Correia, chamou aos membros da Comissão Instaladora, uma “Comissão de Instalados”, por estarem mais preocupados com a sua imagem política, esbanjando dinheiros camarários em revistas e outra publicidade na sua promoção pessoal e partidária?

A comunicação social local e mesmo nacional tem-se dado conta e reproduzido esse mal-estar. “Uns contra os outros”, “não se entendem”, etc. Quem tem razão? Internamente, isto é, dentro do(s) partido(s) não me interessa, repito, mas, quando se reflecte na vida dos munícipes, a questão é outra.

2. Manuel Varges, ex-presidente da Câmara Municipal de Odivelas (CMO), afirmou numa entrevista que «cada um tire as conclusões que quizer face aos 30% resultados de Susana Amador, em 2005, e os mais de 41% que eu tive em 2001». [1]

O que Manuel Varges não diz é que foi devido à sua presidência, desastrosa, que os mais de 6000 votos de 2001, voaram, em 2005, do PS para as urnas do PCP (mais de 4000) e para o BE. O que Manuel Varges não compreende é que os eleitores que normalmente votam PS, deitaram fora a “água do banho com o bebé”, isto é, estavam tão incomodados pela gestão PS, que nem se preocuparam em conhecer a candidata do PS e as suas propostas, co-responsabilizando-a também pela gestão do ex-presidente.

3. No dia 4/10/06, o jornal Nova Odivelas, em manchete na primeira página, diz preto no branco, como soe dizer-se, que Dívidas ascendem aos 14 milhões de euros, e, no seu interior, ao desenvolver o tema, escreve que «auditoria revela ‘buraco’ financeiro na Câmara de Odivelas», e mais, que «o valor da dívida da CM Odivelas a fornecedores ultrapassa, em dobro, o previsto».

Bem se compreende assim, que, ao contrário do que seria esperado, Manuel Varges não foi “a escolha natural do PS”, mas, o próprio desdramatiza a sua escolha dizendo que «é preciso sangue novo e saio por vontade própria.» [2] Porque seria que não foi o escolhido? Os mais atentos, chamam-lhe outra coisa…

4. Ainda não estávamos refeitos deste buraco e do apuramento completo das suas verdadeiras responsabilidades, pelo menos, no domínio público, e já outro ‘escândalo’ surge à porta. Este ao que parece com contornos conjugais.

O casal Peixoto deixa no ar que “fidelidade matrimonial supera política concelhia socialista”. [3] Afinal o vice-presidente da CM Odivelas, Vítor Peixoto, demitiu-se solidário com a esposa Graça Peixoto, que entrou em ruptura com Susana Amador.

Mas, se Graça Peixoto admitiu, em conferência de imprensa, [4] que as divergências com Susana Amador começaram ainda antes da campanha eleitoral para as eleições autárquicas de 2005, em que é que ficamos? Porque é que se candidatou então?

Se, para Vítor Peixoto, igualmente em conferência de imprensa, [5] afirma que «uma teia de intriga política de uma surda mas tremenda luta pelo poder, de uma assanhada competição pela promoção pessoal a qualquer custo» e que «a culpa de todos os problemas que têm surgido no município e no PS em Odivelas é de Susana Amador» (Cfr. Diário de Odivelas, de 7/05 pp), levanta-se a questão: Porque é que se calou durante todo este tempo em que os problemas no concelho de Odivelas teriam estado a ser lesados por responsabilidade directa e pessoal de uma camarada?

Mas, então, porque é que o casal Peixoto concorreu às eleições autáquicas de 2005, se os problemas já vinham [muito?] de trás? Para criar conflitos institucionais? Para dizer mal dos camaradas? Para trazer o nome de Odivelas, do seu concelho e ou dos seus habitantes para a comunicação social local e nacional? Porquê afinal?

5. Muito curiosamente, a meu ver, entre os principais responsáveis pelo estado da situação actual da Câmara de Odivelas e da Freguesia de Odivelas, encontram-se as três personagens acima referidas.

Quanto ao buraco financeiro, aguardemos o aprofundamento da Auditoria para conhecermos mais e melhor da responsabilidade do ex-presidente da CMO, Manuel Varges, e, eventualmente de outros, a quem até a própria JS de Odivelas classifica de “gestão danosa” [6].

Quanto ao casal Peixoto deve-se a actual situação em que se encontra Odivelas, em particular, devido ao conflito institucional – logo, a imagem pública do concelho e da freguesia - com a presidente da Câmara. No entanto, um exemplo elucidativo do que tem sido a gestão autárquica da Freguesia de Odivelas, sob as presidências de Vítor/Graça Peixoto, é a seguinte: o estado lastimável de degradação em que se encontram os passeios da freguesia de Odivelas, com buracos em tudo o que é sítio. E, quando se apresentam reclamações, a ordem á para não pagar: «apenas com ordem do Tribunal» (sic)! ou, quando se trata de reparar uma dezena de pedras da calçada são necessários mais de 30 dias!!

Daqui se retira a excelência de uma gestão autárquica, em que a principal preocupação de quem se sensibiliza pelos idosos da freguesia, não é tapar ou mandar tapar os buracos dos passeios!!!

6. Estas três personagens (por ventura, as faces mais visíveis e conhecidas) não compreendem que representam uma concepção de política gasta, ultrapassada e errada, e, que de certa forma, são os principais responsáveis pelos problemas que criaram ou não resolveram durante os mandatos autárquicos.

Parafraseando Clara Ferreira Alves, «…ficamos com uma ideia que o PS é uma camarilha que se autogoverna». [7]

Caberá a responsabilidade à presidente da Câmara de Odivelas, mostrar que o tempo não volta para trás, devendo, para isso, sanear financeiramente a Autarquia, apurando as responsabilidades onde existirem, não condescendendo com projectos megalómanos ou manifestamente inviáveis, “separar o trigo do joio”, descobrindo onde se encontram os lobos, que circulam por aí, com pele de cordeiros.

Sejamos claros, atacar politicamente a presidente da Câmara não a distinguindo dos seus detractores e adversários políticos, dentro ou fora da Autarquia, como se tudo fosse a mesma coisa, é não entender a gravidade política que esse acto configura na situação política actual, é, no fundo, um ataque directo à Autarquia, enquanto tal. De tal forma, que outros se apressarão a preencher politicamente com a maior das brevidades. Não nos esqueçamos que a criação do concelho de Odivelas, se fez, afinal, contra a vontade de uns quantos, que, agora, tecem loas, porque “se não os podes vencer junta-te a eles”.

Não é vilipendiando ou bajulando os seus detentores que se conquista o poder autárquico, mas, apoiando ou criticando, apresentando sempre alternativas democráticas ao exercício do poder. Clareza, competência e honestidade são parte de uma conduta democrática irrepreensível.

[1] Entrevista de Manuel Varges ao jornal Nova Odivelas, de 25/01/2006.
[2] Entrevista de Manuel Varges ao Nova Odivelas, de 19/06/2006.
[3] Ver, nesse sentido, a primeira página do Notícias da Manhã, de 27/04/2007.
[4] Em 16/04/2007. Cfr. Diariodeodivelas.com/170707gp.htm.
[6] Cfr. Jornal de Odivelas, de 26/10/2006.
[7] Em O Eixo do Mal, SIC Notícias, 20/01/07.

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